Jung analisou a psicologia do místicoe concluiu quea pessoa que atingiu alta maturidade psicológicaé sempre um místico.Não há ninguém na face da Terramais maduro do que um místico [...]
E Jung observa que o místicoé aquele que não tem nostalgia do passadoe muito menos ansiedade diante do futuro.
No capítulo anterior "Mas, o que é Cabala?", deixei propositalmente de fora a pergunta: "Para que serve?" Curiosamente, essa pergunta me foi feita poucas vezes até hoje. As pessoas que ouvem ou querem ouvir falar de Cabala ficam fascinadas com o seu lado esotérico e não se questionam sobre um possível lado prático - ou então, confundem o lado eficaz com ritualísticas fantasiosas quando não práticas insidiosas que, de magia (sabedoria), nada têm. Estamos quase no século XXI e ainda nos deixamos levar apenas por delírios fantasiosos ou, como diz Joseph Campbell:
Parece impossível, mas as pessoas realmente acreditaram em tudo isto até aproximadamente meio século atrás: clérigos, filósofos, oficiais governamentais e todo o resto. Hoje sabemos - e muito bem - que nunca houve nada disto: nenhum jardim do Éden em qualquer lugar desta Terra, nenhuma época em que a serpente falava, nenhuma "Queda" pré-histórica, nenhuma exclusão do jardim, nenhum Dilúvio universal, nenhuma Arca de Noé. A história inteira, na qual a principais religiões Ocidentais estão baseadas, é uma antologia de ficções. Mas essas são ficções de um tipo que tiveram uma voga universal como também lendas fundadoras de outras religiões. As suas similares surgiram em todo o lugar - e, contudo, nunca houve (ali) tal jardim, serpente, árvore ou dilúvio.
Ou ainda:
[Ainda que] amando o espiritual, você não pode desprezar o material.
As fantasias são muito mais gratificantes que a realidade. Mas é com a realidade que devemos trabalhar, ou seja, na Cabala de Terra, na matéria. Diz ainda Z'ev ben Shimon Halevi sobre os grupos de estudo de Cabala:
Devem lidar com a vida como ela realmente é, e manter a sua própria.
Um cabalista moderno, o Dr. Philip S. Berg, completa todos estes pensamentos de uma forma muito lúcida quando esclarece:
Neste contexto deve-se lembrar bem que as palavras e as letras da Torah são uma porta aberta para a transformação e transferência da Luz Divina, permitindo portanto um estado alterado de consciência e consciência (awareness) pura.
Ou ainda que tendo o ser humano dentro de sí um enorme mundo de arquétipos (deuses) poderá entrar em contato com eles através da Cabala para tornar-se, quem sabe, pelo menos semelhante a um dos heróis míticos, enfrentando galhardamente as tarefas que lhe são impostas pelo destino.
Portanto, a Cabala é uma extraordinária ferramenta para lidar-se com o ser humano (você e eles...), o seu meio social, psíquico e físico; de três maneiras fundamentais: - Cultural.
O conhecimento de Cabala como cultura permite a toda e qualquer pessoa que a estude aprender a enxergar, escutar e sentir um inundo diferente. Poderá ter extraordinárias experiências ao entrar, por exemplo, em uma catedral medieval tal como a de Chartres (França); compreenderá a simbologia ali contida e a vivenciará de maneira muito especial. Se você não puder ir até Chartres, vá até a capela dos Beneditinos, no Largo de São Bento, em São Paulo... Ou a qualquer capela de alguma ordem monástica antiga. O mesmo acontecerá, certamente, ao entrar em contato com os grandes mosteiros, quer cristãos ou, quem sabe, budistas. Você pode, ainda, mergulhar na literatura, para desvendar a brincadeira de Umberto Eco em seu O Pêndulo de Foucauld: uma cabala bem humorada. De forma geral, eventos psicológicos oferecem vivências muito mais fortes do que fatos evidentemente concretos. É preciso certos cuidados para não confundir esses eventos, quando da sua vivência, com fenômenos que os desavisados classificariam de "místicos" ou, pior ainda, "mágicos"! A mística e a magia estão implícitos em uma vida bem vivida e não em uma fenomenologia pseudo-paranormal. Há muitos psicóticos que pensam ser paranormais e há outro tanto de paranormais que se julgam psicóticos - e pior, que se internam deixando os outros de fora! Que pena!
Cabala é um estudo metafísico (do grego meta = além, physis = natureza), portanto além da natureza física. Abre acesso aos conhecimentos que estão "dentro" de você, que você "sabe" que sabe. Às vezes, não sabe muito bem aonde. Mas estão aí dentro de você, talvez há muito e muito tempo. Por isso, Cabala é para mentes livres que podem e devem continuar sendo livres e criativas. Tal como as mentes dos velhos mestres Zen que refletiam a sua sabedoria através do seu inefável bom humor.
O labirinto era comum em catedrais. Hoje poucas ainda o possuem. A Catedral de Chartres é uma delas. Ele indica a perplexidade do neófito ao entrar em contato com o seu inconsciente, a sua forma essencial. Na realidade, este labirinto não é um labirinto de verdade e sim um caminho sinuoso, sem alternativas, desde a entrada até a saída - no seu centro! Que deveria ser o seu centro pessoal! Esta é a planta baixa do labirinto da Catedral de Chartres, século XIII.
Marie-Louise von Franz conta o seguinte fato sobre o Dr. Carl Gustav Jung e que exemplifica bem do que estamos falando:[...] ao observar o Dr. Jung, notei que quanto mais velho ele ficava, mais conseguia informações de que precisava para lidar com o que quer que estivesse pensando sobre o que quer que estivesse trabalhando; as informações simplesmente "corriam atrás dele". Certa vez, quando estava ocupado com determinado problema, um clínico geral australiano enviou-lhe o material completo de que precisaria, o qual lhe chegou pelo correio no momento exato em que dizia: "Precisaria agora de algumas observações sobre este tipo de coisa".
Quem sabe, eliminaríamos assim a necessidade de fax e modems no computador...
- Operacional ou terapêutica. Nada de magia à maneira da Golden Dawn Society ainda que respeite profundamente a contribuição daquela sociedade para o entrosamento entre a Cabala e o Tarô. Muito menos o delírio mágico de criar um Golem, segundo a tradição judaica. Mas sim aquela empregada por muitos cabalistas, grandes terapeutas, na anamnese* ou na diagnose. Ainda que se diga que Moisés Maimônides não tenha sido um cabalista, há na sua literatura menção positiva à Cabala. Ele foi, entretanto, um grande médico do século XII, tendo se distinguido por trabalhar para o Califa do Cairo, no Egito, após a sua fuga da Espanha. Maimônides escreveu dois livros extraordinários, tentando "curar" a sociedade com o seu conhecimento: O Guia dos Perplexos (Dalalat al-hairin , aliás, originalmente escrito em árabe) e O Livro da Sabedoria (Mishné Torá). Mesmo porque, como ele diz em seu Guia:
Se o homem nunca fosse sujeito a mudanças não haveria geração.
(*) Anamnésia, S.f.1. Ret. Figura pela qual nos fingimos recordar da coisa esquecida. 2. P. ext. Reminiscência, recordação. 3. Méd. Informações acerca do principio e evolução duma doença até a primeira observação do médico. [Cf., nesta acepç., catamnésia. Sin. Ger.: anamnese. Var. pros.: anamnesia. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, 2ª Ed., Editora Nova Fronteira.
Um dos grandes terapeutas deste século, Carl Gustav Jung, embora nunca tenha confessado claramente o seu conhecimento de Cabala (a que chamava de "alquimia filosófica") bem como o seu uso, o fez, porém, quando colocou à Aniela Jaffé, em suas memórias, o seguinte: Quando a olhava [a enfermeira], acreditava ver um halo azul em torno de sua cabeça. Eu próprio me encontrava no Pardes Rimmonim, o jardim das romãs, e aí se celebrava o casamento de Tiphereth com Malchuth (sic). Ou então era como seu eu fosse o rabino Simeão ben Yochai, cujas bodas eram celebradas no além. Era o casamento místico tal como aparecia nas representações da tradição cabalística. Não poderia dizer o quanto tudo isso era maravilhoso. Eu não deixava de pensar: "E o jardim das romãs! É o casamento de Malchuth com Tiphereth!" Não sei exatamente que papel eu desempenhava na celebração. No fundo, tratava-se de mim mesmo: eu era o casamento, e minha beatitude era a de um casamento feliz.
Sem dúvida, Jung encontrava-se febril em sua doença, mas revelava um profundo conhecimento de Cabala e de cabalistas. Não foi à-toa, portanto, que mais adiante, disse a Jaffé:
Assim, por exemplo, é uma propriedade do número quatro o fato das equações de quarto grau poderem ser resolvidas, enquanto que as do quinto grau não podem. Uma "implicação necessária" do número quatro obriga portanto afirmar que ele é ao mesmo tempo o ápice e o termo de uma ascensão.
Quem já conhece Cabala sabe muito bem que o estágio ou sefira 5 refere-se a uma eventual "cauterização" de egos inflados decorrentes de uma má compreensão do que significa "ser" no estágio ou sefira 4. Não há "equação de quinto grau que possa ser resolvida". Apenas após uma possível cauterização do ego, quando o homem, pacificado, atinge o estágio ou sefira 4 poderá "resolver as equações de quarto grau". E o "ápice e o termo de urna ascensão" pela Árvore do Bem e do Mal, a Cabala. Ou ainda melhor quando Jung continua:
O corpo tem uma pré-história anatômica de milhões de anos - o mesmo acontece com o sistema psíquico. O corpo humano atual representa em cada uma das partes o resultado desse desenvolvimento, transparecendo as etapas prévias de seu presente; o mesmo acontece com a psique.
Ou seja, a Cabala, código montado pelos nossos antigos sábios assemelha-se extraordinariamente a um ADN (ácido dioxirribonucleico) considerado o nosso "arquétipo" invisível. A Cabala funciona da mesma maneira que o ADN, propiciando formas de medição e comparação sutis dos aspectos psico-físicos do ser humano em relação a uma forma pura e perfeita. Parece ficção, mas ficção é não aceitarmos evolução através da "geração" de novas idéias e conceitos, aliás extraordinariamente antigas, apenas ocultas pela falta de interesse na sua revelação? (Ou pelo medo?) A verdade permanece sendo que a Cabala sempre foi uma grande ferramente psiquiátrica; eficaz muito antes do aparecimento das modernas psiquiatria e psicologia. Tal qual a astrologia, o I Ching chinês e algumas tantas outras formas (esotéricas?) de procurar fazer com que as pessoas se compreendam.
Marie-Louise von Franz conta o seguinte fato sobre o Dr. Carl Gustav Jung e que exemplifica bem do que estamos falando:[...] ao observar o Dr. Jung, notei que quanto mais velho ele ficava, mais conseguia informações de que precisava para lidar com o que quer que estivesse pensando sobre o que quer que estivesse trabalhando; as informações simplesmente "corriam atrás dele". Certa vez, quando estava ocupado com determinado problema, um clínico geral australiano enviou-lhe o material completo de que precisaria, o qual lhe chegou pelo correio no momento exato em que dizia: "Precisaria agora de algumas observações sobre este tipo de coisa".
Quem sabe, eliminaríamos assim a necessidade de fax e modems no computador...
- Operacional ou terapêutica. Nada de magia à maneira da Golden Dawn Society ainda que respeite profundamente a contribuição daquela sociedade para o entrosamento entre a Cabala e o Tarô. Muito menos o delírio mágico de criar um Golem, segundo a tradição judaica. Mas sim aquela empregada por muitos cabalistas, grandes terapeutas, na anamnese* ou na diagnose. Ainda que se diga que Moisés Maimônides não tenha sido um cabalista, há na sua literatura menção positiva à Cabala. Ele foi, entretanto, um grande médico do século XII, tendo se distinguido por trabalhar para o Califa do Cairo, no Egito, após a sua fuga da Espanha. Maimônides escreveu dois livros extraordinários, tentando "curar" a sociedade com o seu conhecimento: O Guia dos Perplexos (Dalalat al-hairin , aliás, originalmente escrito em árabe) e O Livro da Sabedoria (Mishné Torá). Mesmo porque, como ele diz em seu Guia:
Se o homem nunca fosse sujeito a mudanças não haveria geração.
(*) Anamnésia, S.f.1. Ret. Figura pela qual nos fingimos recordar da coisa esquecida. 2. P. ext. Reminiscência, recordação. 3. Méd. Informações acerca do principio e evolução duma doença até a primeira observação do médico. [Cf., nesta acepç., catamnésia. Sin. Ger.: anamnese. Var. pros.: anamnesia. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, 2ª Ed., Editora Nova Fronteira.
Um dos grandes terapeutas deste século, Carl Gustav Jung, embora nunca tenha confessado claramente o seu conhecimento de Cabala (a que chamava de "alquimia filosófica") bem como o seu uso, o fez, porém, quando colocou à Aniela Jaffé, em suas memórias, o seguinte: Quando a olhava [a enfermeira], acreditava ver um halo azul em torno de sua cabeça. Eu próprio me encontrava no Pardes Rimmonim, o jardim das romãs, e aí se celebrava o casamento de Tiphereth com Malchuth (sic). Ou então era como seu eu fosse o rabino Simeão ben Yochai, cujas bodas eram celebradas no além. Era o casamento místico tal como aparecia nas representações da tradição cabalística. Não poderia dizer o quanto tudo isso era maravilhoso. Eu não deixava de pensar: "E o jardim das romãs! É o casamento de Malchuth com Tiphereth!" Não sei exatamente que papel eu desempenhava na celebração. No fundo, tratava-se de mim mesmo: eu era o casamento, e minha beatitude era a de um casamento feliz.
Sem dúvida, Jung encontrava-se febril em sua doença, mas revelava um profundo conhecimento de Cabala e de cabalistas. Não foi à-toa, portanto, que mais adiante, disse a Jaffé:
Assim, por exemplo, é uma propriedade do número quatro o fato das equações de quarto grau poderem ser resolvidas, enquanto que as do quinto grau não podem. Uma "implicação necessária" do número quatro obriga portanto afirmar que ele é ao mesmo tempo o ápice e o termo de uma ascensão.
Quem já conhece Cabala sabe muito bem que o estágio ou sefira 5 refere-se a uma eventual "cauterização" de egos inflados decorrentes de uma má compreensão do que significa "ser" no estágio ou sefira 4. Não há "equação de quinto grau que possa ser resolvida". Apenas após uma possível cauterização do ego, quando o homem, pacificado, atinge o estágio ou sefira 4 poderá "resolver as equações de quarto grau". E o "ápice e o termo de urna ascensão" pela Árvore do Bem e do Mal, a Cabala. Ou ainda melhor quando Jung continua:
O corpo tem uma pré-história anatômica de milhões de anos - o mesmo acontece com o sistema psíquico. O corpo humano atual representa em cada uma das partes o resultado desse desenvolvimento, transparecendo as etapas prévias de seu presente; o mesmo acontece com a psique.
Ou seja, a Cabala, código montado pelos nossos antigos sábios assemelha-se extraordinariamente a um ADN (ácido dioxirribonucleico) considerado o nosso "arquétipo" invisível. A Cabala funciona da mesma maneira que o ADN, propiciando formas de medição e comparação sutis dos aspectos psico-físicos do ser humano em relação a uma forma pura e perfeita. Parece ficção, mas ficção é não aceitarmos evolução através da "geração" de novas idéias e conceitos, aliás extraordinariamente antigas, apenas ocultas pela falta de interesse na sua revelação? (Ou pelo medo?) A verdade permanece sendo que a Cabala sempre foi uma grande ferramente psiquiátrica; eficaz muito antes do aparecimento das modernas psiquiatria e psicologia. Tal qual a astrologia, o I Ching chinês e algumas tantas outras formas (esotéricas?) de procurar fazer com que as pessoas se compreendam.
Compare-se, por exemplo, dois fatos, um Junguiano, com outro contido nos Atos de Pedro da Biblioteca de Nag Hammadi. Jung diz em sua biografia:Começou queixando-se de seus males, depois desfiou a história de sua doença e de tudo que a ela se ligava. Finalmente a interrompi, dizendo: "Pois bem, agora não há tempo de continuar esta conversa, preciso hipnotizá-la." - Apenas pronunciei estas palavras, ela fechou os olhos, entrando em transe profundo - sem a menor hipnose! [...]
Quando ao fim de meia hora, quis despertar a doente, não o consegui. A situação era alarmante e imaginei que talvez tivesse aflorado naquela mulher uma psicose latente. Passaram-se dez minutos e não consegui acordá-la. Não queria que os estudantes percebessem a minha ansiedade. Afinal ela voltou a si atordoada e confusa.
Procurei tranqüilizá-la: “Sou médico, e tudo está bem.” Então ela gritou:
“Estou curada”! Jogando longe de si as muletas pôs-se a andar. Senti que me ruborizava e disse aos estudantes: "Vocês podem ver o que é possível obter pela hipnose." Não tinha, porém, a menor idéia do que se passara.
Essa foi uma das experiências que me incitaram a renunciar à hipnose. Não podia compreender o que realmente ocorrera, mas a mulher se curara verdadeiramente e saiu muito feliz da clínica.Nos Atos de Pedro da Biblioteca de Nag Hammadi, consta este relato em que Pedro fala a pessoas presentes sobre Deus e usa sua filha inválida como exemplo:
Então Pedro sorriu e disse-lhe, "Meu filho é aparente apenas para Deus porque o seu corpo (referindo-se ao corpo da sua própria filha paralizada)* não é saudável. Saiba, então, que Deus não foi fraco ou incapaz de dar um corpo saudável à minha filha. Mas para que a sua alma possa ser persuadida e, aqueles que estão aqui, possam ter mais fé." [...] Então ele olhou para a sua filha e disse para ela, "Levante-se do seu lugar! Não deixe ninguém ajudá-la a não ser apenas Jesus, e caminhe perfeita na frente de toda essa gente! Venha para mim!" E ela levantou-se e foi até ele. A turba rejubilou-se pelo que havia acontecido. Pedro disse-lhes, "Vejam, os seus corações foram persuadidos de que Deus não é impotente em relação a qualquer coisa que peçamos para Ele." Então eles se rejubilaram ainda mais e honraram a Deus.
Pedro disse à sua filha, "Vá para o seu lugar, e sente-se, e torne-se novamente inválida- Porque isso é um benefício para você e para mim." E a menina voltou ao seu lugar, sentou-se e tornou-se como era antes. [...]
Pedro disse-lhes, "Enquanto o Senhor vive, isso é um benefício para ela e para mim. Porque no dia em que ela nasceu eu tive uma visão e o Senhor disse-me, 'Pedro, nasceu para você hoje uma grande provação. Porque essa (filha) machucará muitas almas se o seu corpo permanecer saudável.' Mas eu achei que a visão estava caçoando de mim."
O terapeuta assusta-se (Jung) com a cura enquanto que o outro (Pedro), religioso e aparentemente mais próximo do numinoso, age com naturalidade frente a um fato de cura "extraordinário" e mais ainda ao revertê-lo - neste caso, ainda que estando no campo da hipnose, os menos desavisados já vêem um milagre. Ambos são homens que crêem, mas que tem visões diferentes da sua crença. Se Pedro fosse menos religioso e mais terapeuta poderia ter curado o trauma de sua filha (diz a lenda que a filha de Pedro teria ficado inválida devido a um estupro). Acho curiosa a reação de Jung, definitivamente um terapeuta, sobretudo por ele ter definido a sua crença numa frase profunda de alguém que sabia se "escutar" e "sabia que sabia":
Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou.
Jung perdeu a excelente oportunidade de resgatar a hipnose, ou transe, como ferramenta terapêutica. O que veio a ocorrer com Milton H. Erickson, Ph. D.*, outro grande terapeuta e sábio (norte-americano) moderno. A propósito, diz Aniela Jaffé:
Mesmo uma descida ao inconsciente, empreendida conscientemente, e uma confrontação ativa com os seus conteúdos - que Jung chamava "imaginação ativa" - conduz, se não sempre, na maioria das vezes, a uma experiência do numinoso.
Ou, segundo consta em todos os grandes textos tradicionais, só existem dois grandes terapeutas de verdade:
Pedro disse-lhes, "Enquanto o Senhor vive, isso é um benefício para ela e para mim. Porque no dia em que ela nasceu eu tive uma visão e o Senhor disse-me, 'Pedro, nasceu para você hoje uma grande provação. Porque essa (filha) machucará muitas almas se o seu corpo permanecer saudável.' Mas eu achei que a visão estava caçoando de mim."
O terapeuta assusta-se (Jung) com a cura enquanto que o outro (Pedro), religioso e aparentemente mais próximo do numinoso, age com naturalidade frente a um fato de cura "extraordinário" e mais ainda ao revertê-lo - neste caso, ainda que estando no campo da hipnose, os menos desavisados já vêem um milagre. Ambos são homens que crêem, mas que tem visões diferentes da sua crença. Se Pedro fosse menos religioso e mais terapeuta poderia ter curado o trauma de sua filha (diz a lenda que a filha de Pedro teria ficado inválida devido a um estupro). Acho curiosa a reação de Jung, definitivamente um terapeuta, sobretudo por ele ter definido a sua crença numa frase profunda de alguém que sabia se "escutar" e "sabia que sabia":
Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou.
Jung perdeu a excelente oportunidade de resgatar a hipnose, ou transe, como ferramenta terapêutica. O que veio a ocorrer com Milton H. Erickson, Ph. D.*, outro grande terapeuta e sábio (norte-americano) moderno. A propósito, diz Aniela Jaffé:
Mesmo uma descida ao inconsciente, empreendida conscientemente, e uma confrontação ativa com os seus conteúdos - que Jung chamava "imaginação ativa" - conduz, se não sempre, na maioria das vezes, a uma experiência do numinoso.
Ou, segundo consta em todos os grandes textos tradicionais, só existem dois grandes terapeutas de verdade:
Deus e você!
Quantos terapeutas não poderiam realizar-se melhor profissionalmente prendendo-se menos a "escolas" e mais às necessidades do seu paciente? A pergunta seria: "Com que ferramenta posso curá-lo?", e não "Tenho que curá-lo com a 'minha' terapia!" Ou, voltando a enfatizar Lucas 4, 23: "Terapeuta*, cura-te a ti mesmo."(*) Parênteses nossos.
(*) Se você tem interesse, há vários livros magníficos sobre o trabalho de Milton H. Erickson já traduzidos. Comece, por exemplo, pelo Seminários Didáticos de Psicanálise (Ed. Imago). Depois procure as traduções dos vários volumes de Milton H. Erickson Papers (Ed. Psy). Leia também As Táticas e o jogo de Poder de Jesus Cristo e outros ensaios, de Jay Haley M. D. (Ed. Nórdica). Ah, sim, na Bíblia de Jerusalém, este texto está dizendo "Medico, cura-te a ti mesmo". É uma tradução incorreta da palavra grega therapeutés, cujo significado verdadeiro é "aquele que cura" e não necessariamente "médico".
(*) Se você tem interesse, há vários livros magníficos sobre o trabalho de Milton H. Erickson já traduzidos. Comece, por exemplo, pelo Seminários Didáticos de Psicanálise (Ed. Imago). Depois procure as traduções dos vários volumes de Milton H. Erickson Papers (Ed. Psy). Leia também As Táticas e o jogo de Poder de Jesus Cristo e outros ensaios, de Jay Haley M. D. (Ed. Nórdica). Ah, sim, na Bíblia de Jerusalém, este texto está dizendo "Medico, cura-te a ti mesmo". É uma tradução incorreta da palavra grega therapeutés, cujo significado verdadeiro é "aquele que cura" e não necessariamente "médico".
Falando de curas bíblicas, vale a pena assinalar que das 50 ou mais "curas milagrosas" atribuídas a Jesus, muitas referem-se certamente a doentes em estados alterados de consciência ou, então, com problemas mentais capazes de serem curados com psicoterapia - talvez até com uma psicoterapia breve trabalhada por um psicoterapeuta competente. Convém observar que muitos "pacientes" curados pelo terapeuta Jesus não sabiam que iriam ser ou que foram tratados. Apenas desfrutaram da "cura"... Trabalhada por um "terapeutés" competente: Jesus**! Como já vimos anteriormente, Jesus foi, com certeza, bem mais competente do que Pedro, que não percebeu que tinha em suas mãos a cura para a sua filha.
No próximo capítulo Terapia e Cabala, faço mais algumas considerações sobre esse assunto.
- Erudito. Aqui temos um campo ilimitado para o estudioso que tenha a coragem de ultrapassar as superstições e lendas com as quais nós normalmente justificamos a nossa falta de informação, ou então, a falta de coragem em encarar uma nova e dura realidade. Sou forçado a buscar novamente em Jung uma outra confissão. Aquela do seu encontro com a "sua realidade". Ele diz:
Já me referi à concidência de meu desenvolvimento interior com o envio que me fez Richard Wilhelm de um texto taoísta. Em 1929 nasceu o livro publicado em colaboração com ele: O Segredo da Flor de Ouro. As minhas reflexões e pesquisas atingiram então o ponto central de minha psicologia, isto é, a idéia do self. Só nesse momento encontrei meu caminho de volta ao mundo.
Jung, seus amigos, Richard Wilhelm, Heinrich Zimmer, e discípulos escreveram e escrevem verdadeiros tratados cabalísticos. Parece que muito poucos leitores estão dispostos a "sacar" o que está escrito ali porque desconhecem a linguagem; essa metaliguagem é a Cabala. Ela permitirá intuir um sem fim de processos em qualquer atividade humana porque através dela o erudito poderá avançar muito além do conhecimento formal e, quem sabe, levar consigo a humanidade; sem medo, e não como aconteceu com Jung quando revelou que:
A partir desse momento evitei mencionar qualquer tema "esotérico" na presença de meus colegas; entre os adultos não havia ninguém com quem pudesse conversar, sem medo de ser tomado por fanfarrão e charlatão.
(*) Terapeuta. [Do grego therapeutés]. S. 2g. 1. Aquele que exerce alguma forma de terapêutica e/ou conhece bem as indicações dela. Novo dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. 2ª Ed.., Editora Nova Fronteira. (**) Observe que o Novo Testamento foi escrito aproximadamente entre 45 e 125 d.C, e, certamente, muito ali contido trata-se de “ouvir dizer”. Como alias toda a Bíblia. Acreditam alguns eruditos que o Evangelho de João seja aquele mais próximo da realidade, ou por convívio direto de João ou, então, por narração a ele de alguém que de fato conviveu com Jesus.
- Erudito. Aqui temos um campo ilimitado para o estudioso que tenha a coragem de ultrapassar as superstições e lendas com as quais nós normalmente justificamos a nossa falta de informação, ou então, a falta de coragem em encarar uma nova e dura realidade. Sou forçado a buscar novamente em Jung uma outra confissão. Aquela do seu encontro com a "sua realidade". Ele diz:
Já me referi à concidência de meu desenvolvimento interior com o envio que me fez Richard Wilhelm de um texto taoísta. Em 1929 nasceu o livro publicado em colaboração com ele: O Segredo da Flor de Ouro. As minhas reflexões e pesquisas atingiram então o ponto central de minha psicologia, isto é, a idéia do self. Só nesse momento encontrei meu caminho de volta ao mundo.
Jung, seus amigos, Richard Wilhelm, Heinrich Zimmer, e discípulos escreveram e escrevem verdadeiros tratados cabalísticos. Parece que muito poucos leitores estão dispostos a "sacar" o que está escrito ali porque desconhecem a linguagem; essa metaliguagem é a Cabala. Ela permitirá intuir um sem fim de processos em qualquer atividade humana porque através dela o erudito poderá avançar muito além do conhecimento formal e, quem sabe, levar consigo a humanidade; sem medo, e não como aconteceu com Jung quando revelou que:
A partir desse momento evitei mencionar qualquer tema "esotérico" na presença de meus colegas; entre os adultos não havia ninguém com quem pudesse conversar, sem medo de ser tomado por fanfarrão e charlatão.
(*) Terapeuta. [Do grego therapeutés]. S. 2g. 1. Aquele que exerce alguma forma de terapêutica e/ou conhece bem as indicações dela. Novo dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. 2ª Ed.., Editora Nova Fronteira. (**) Observe que o Novo Testamento foi escrito aproximadamente entre 45 e 125 d.C, e, certamente, muito ali contido trata-se de “ouvir dizer”. Como alias toda a Bíblia. Acreditam alguns eruditos que o Evangelho de João seja aquele mais próximo da realidade, ou por convívio direto de João ou, então, por narração a ele de alguém que de fato conviveu com Jesus.
Fonte: Textos do Cabalista e professor de Aikido: Leo Reisler(publicados anteriormente no boletim do Espaço Holístico)