10 junho, 2008

Mas para quê serve a Cabala?







Jung analisou a psicologia do místicoe concluiu quea pessoa que atingiu alta maturidade psicológicaé sempre um místico.Não há ninguém na face da Terramais maduro do que um místico [...]

E Jung observa que o místicoé aquele que não tem nostalgia do passadoe muito menos ansiedade diante do futuro.




No capítulo anterior "Mas, o que é Cabala?", deixei propositalmente de fora a pergunta: "Para que serve?" Curiosamente, essa pergunta me foi feita poucas vezes até hoje. As pessoas que ouvem ou querem ouvir falar de Cabala ficam fascinadas com o seu lado esotérico e não se questionam sobre um possível lado prático - ou então, confundem o lado eficaz com ritualísticas fantasiosas quando não práticas insidiosas que, de magia (sabedoria), nada têm. Estamos quase no século XXI e ainda nos deixamos levar apenas por delírios fantasiosos ou, como diz Joseph Campbell:


Parece impossível, mas as pessoas realmente acreditaram em tudo isto até aproximadamente meio século atrás: clérigos, filósofos, oficiais governamentais e todo o resto. Hoje sabemos - e muito bem - que nunca houve nada disto: nenhum jardim do Éden em qualquer lugar desta Terra, nenhuma época em que a serpente falava, nenhuma "Queda" pré-histórica, nenhuma exclusão do jardim, nenhum Dilúvio universal, nenhuma Arca de Noé. A história inteira, na qual a principais religiões Ocidentais estão baseadas, é uma antologia de ficções. Mas essas são ficções de um tipo que tiveram uma voga universal como também lendas fundadoras de outras religiões. As suas similares surgiram em todo o lugar - e, contudo, nunca houve (ali) tal jardim, serpente, árvore ou dilúvio.
Ou ainda:


[Ainda que] amando o espiritual, você não pode desprezar o material.
As fantasias são muito mais gratificantes que a realidade. Mas é com a realidade que devemos trabalhar, ou seja, na Cabala de Terra, na matéria. Diz ainda Z'ev ben Shimon Halevi sobre os grupos de estudo de Cabala:


Devem lidar com a vida como ela realmente é, e manter a sua própria.
Um cabalista moderno, o Dr. Philip S. Berg, completa todos estes pensamentos de uma forma muito lúcida quando esclarece:


Neste contexto deve-se lembrar bem que as palavras e as letras da Torah são uma porta aberta para a transformação e transferência da Luz Divina, permitindo portanto um estado alterado de consciência e consciência (awareness) pura.
Ou ainda que tendo o ser humano dentro de sí um enorme mundo de arquétipos (deuses) poderá entrar em contato com eles através da Cabala para tornar-se, quem sabe, pelo menos semelhante a um dos heróis míticos, enfrentando galhardamente as tarefas que lhe são impostas pelo destino.
Portanto, a Cabala é uma extraordinária ferramenta para lidar-se com o ser humano (você e eles...), o seu meio social, psíquico e físico; de três maneiras fundamentais: - Cultural.

O conhecimento de Cabala como cultura permite a toda e qualquer pessoa que a estude aprender a enxergar, escutar e sentir um inundo diferente. Poderá ter extraordinárias experiências ao entrar, por exemplo, em uma catedral medieval tal como a de Chartres (França); compreenderá a simbologia ali contida e a vivenciará de maneira muito especial. Se você não puder ir até Chartres, vá até a capela dos Beneditinos, no Largo de São Bento, em São Paulo... Ou a qualquer capela de alguma ordem monástica antiga. O mesmo acontecerá, certamente, ao entrar em contato com os grandes mosteiros, quer cristãos ou, quem sabe, budistas. Você pode, ainda, mergulhar na literatura, para desvendar a brincadeira de Umberto Eco em seu O Pêndulo de Foucauld: uma cabala bem humorada. De forma geral, eventos psicológicos oferecem vivências muito mais fortes do que fatos evidentemente concretos. É preciso certos cuidados para não confundir esses eventos, quando da sua vivência, com fenômenos que os desavisados classificariam de "místicos" ou, pior ainda, "mágicos"! A mística e a magia estão implícitos em uma vida bem vivida e não em uma fenomenologia pseudo-paranormal. Há muitos psicóticos que pensam ser paranormais e há outro tanto de paranormais que se julgam psicóticos - e pior, que se internam deixando os outros de fora! Que pena!

Cabala é um estudo metafísico (do grego meta = além, physis = natureza), portanto além da natureza física. Abre acesso aos conhecimentos que estão "dentro" de você, que você "sabe" que sabe. Às vezes, não sabe muito bem aonde. Mas estão aí dentro de você, talvez há muito e muito tempo. Por isso, Cabala é para mentes livres que podem e devem continuar sendo livres e criativas. Tal como as mentes dos velhos mestres Zen que refletiam a sua sabedoria através do seu inefável bom humor.

O labirinto era comum em catedrais. Hoje poucas ainda o possuem. A Catedral de Chartres é uma delas. Ele indica a perplexidade do neófito ao entrar em contato com o seu inconsciente, a sua forma essencial. Na realidade, este labirinto não é um labirinto de verdade e sim um caminho sinuoso, sem alternativas, desde a entrada até a saída - no seu centro! Que deveria ser o seu centro pessoal! Esta é a planta baixa do labirinto da Catedral de Chartres, século XIII.
Marie-Louise von Franz conta o seguinte fato sobre o Dr. Carl Gustav Jung e que exemplifica bem do que estamos falando:[...] ao observar o Dr. Jung, notei que quanto mais velho ele ficava, mais conseguia informações de que precisava para lidar com o que quer que estivesse pensando sobre o que quer que estivesse trabalhando; as informações simplesmente "corriam atrás dele". Certa vez, quando estava ocupado com determinado problema, um clínico geral australiano enviou-lhe o material completo de que precisaria, o qual lhe chegou pelo correio no momento exato em que dizia: "Precisaria agora de algumas observações sobre este tipo de coisa".
Quem sabe, eliminaríamos assim a necessidade de fax e modems no computador...
- Operacional ou terapêutica. Nada de magia à maneira da Golden Dawn Society ainda que respeite profundamente a contribuição daquela sociedade para o entrosamento entre a Cabala e o Tarô. Muito menos o delírio mágico de criar um Golem, segundo a tradição judaica. Mas sim aquela empregada por muitos cabalistas, grandes terapeutas, na anamnese* ou na diagnose. Ainda que se diga que Moisés Maimônides não tenha sido um cabalista, há na sua literatura menção positiva à Cabala. Ele foi, entretanto, um grande médico do século XII, tendo se distinguido por trabalhar para o Califa do Cairo, no Egito, após a sua fuga da Espanha. Maimônides escreveu dois livros extraordinários, tentando "curar" a sociedade com o seu conhecimento: O Guia dos Perplexos (Dalalat al-hairin , aliás, originalmente escrito em árabe) e O Livro da Sabedoria (Mishné Torá). Mesmo porque, como ele diz em seu Guia:
Se o homem nunca fosse sujeito a mudanças não haveria geração.
(*) Anamnésia, S.f.1. Ret. Figura pela qual nos fingimos recordar da coisa esquecida. 2. P. ext. Reminiscência, recordação. 3. Méd. Informações acerca do principio e evolução duma doença até a primeira observação do médico. [Cf., nesta acepç., catamnésia. Sin. Ger.: anamnese. Var. pros.: anamnesia. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, 2ª Ed., Editora Nova Fronteira.
Um dos grandes terapeutas deste século, Carl Gustav Jung, embora nunca tenha confessado claramente o seu conhecimento de Cabala (a que chamava de "alquimia filosófica") bem como o seu uso, o fez, porém, quando colocou à Aniela Jaffé, em suas memórias, o seguinte: Quando a olhava [a enfermeira], acreditava ver um halo azul em torno de sua cabeça. Eu próprio me encontrava no Pardes Rimmonim, o jardim das romãs, e aí se celebrava o casamento de Tiphereth com Malchuth (sic). Ou então era como seu eu fosse o rabino Simeão ben Yochai, cujas bodas eram celebradas no além. Era o casamento místico tal como aparecia nas representações da tradição cabalística. Não poderia dizer o quanto tudo isso era maravilhoso. Eu não deixava de pensar: "E o jardim das romãs! É o casamento de Malchuth com Tiphereth!" Não sei exatamente que papel eu desempenhava na celebração. No fundo, tratava-se de mim mesmo: eu era o casamento, e minha beatitude era a de um casamento feliz.
Sem dúvida, Jung encontrava-se febril em sua doença, mas revelava um profundo conhecimento de Cabala e de cabalistas. Não foi à-toa, portanto, que mais adiante, disse a Jaffé:
Assim, por exemplo, é uma propriedade do número quatro o fato das equações de quarto grau poderem ser resolvidas, enquanto que as do quinto grau não podem. Uma "implicação necessária" do número quatro obriga portanto afirmar que ele é ao mesmo tempo o ápice e o termo de uma ascensão.
Quem já conhece Cabala sabe muito bem que o estágio ou sefira 5 refere-se a uma eventual "cauterização" de egos inflados decorrentes de uma má compreensão do que significa "ser" no estágio ou sefira 4. Não há "equação de quinto grau que possa ser resolvida". Apenas após uma possível cauterização do ego, quando o homem, pacificado, atinge o estágio ou sefira 4 poderá "resolver as equações de quarto grau". E o "ápice e o termo de urna ascensão" pela Árvore do Bem e do Mal, a Cabala. Ou ainda melhor quando Jung continua:
O corpo tem uma pré-história anatômica de milhões de anos - o mesmo acontece com o sistema psíquico. O corpo humano atual representa em cada uma das partes o resultado desse desenvolvimento, transparecendo as etapas prévias de seu presente; o mesmo acontece com a psique.
Ou seja, a Cabala, código montado pelos nossos antigos sábios assemelha-se extraordinariamente a um ADN (ácido dioxirribonucleico) considerado o nosso "arquétipo" invisível. A Cabala funciona da mesma maneira que o ADN, propiciando formas de medição e comparação sutis dos aspectos psico-físicos do ser humano em relação a uma forma pura e perfeita. Parece ficção, mas ficção é não aceitarmos evolução através da "geração" de novas idéias e conceitos, aliás extraordinariamente antigas, apenas ocultas pela falta de interesse na sua revelação? (Ou pelo medo?) A verdade permanece sendo que a Cabala sempre foi uma grande ferramente psiquiátrica; eficaz muito antes do aparecimento das modernas psiquiatria e psicologia. Tal qual a astrologia, o I Ching chinês e algumas tantas outras formas (esotéricas?) de procurar fazer com que as pessoas se compreendam.

Compare-se, por exemplo, dois fatos, um Junguiano, com outro contido nos Atos de Pedro da Biblioteca de Nag Hammadi. Jung diz em sua biografia:Começou queixando-se de seus males, depois desfiou a história de sua doença e de tudo que a ela se ligava. Finalmente a interrompi, dizendo: "Pois bem, agora não há tempo de continuar esta conversa, preciso hipnotizá-la." - Apenas pronunciei estas palavras, ela fechou os olhos, entrando em transe profundo - sem a menor hipnose! [...]

Quando ao fim de meia hora, quis despertar a doente, não o consegui. A situação era alarmante e imaginei que talvez tivesse aflorado naquela mulher uma psicose latente. Passaram-se dez minutos e não consegui acordá-la. Não queria que os estudantes percebessem a minha ansiedade. Afinal ela voltou a si atordoada e confusa.


Procurei tranqüilizá-la: “Sou médico, e tudo está bem.” Então ela gritou:

“Estou curada”! Jogando longe de si as muletas pôs-se a andar. Senti que me ruborizava e disse aos estudantes: "Vocês podem ver o que é possível obter pela hipnose." Não tinha, porém, a menor idéia do que se passara.

Essa foi uma das experiências que me incitaram a renunciar à hipnose. Não podia compreender o que realmente ocorrera, mas a mulher se curara verdadeiramente e saiu muito feliz da clínica.Nos Atos de Pedro da Biblioteca de Nag Hammadi, consta este relato em que Pedro fala a pessoas presentes sobre Deus e usa sua filha inválida como exemplo:

Então Pedro sorriu e disse-lhe, "Meu filho é aparente apenas para Deus porque o seu corpo (referindo-se ao corpo da sua própria filha paralizada)* não é saudável. Saiba, então, que Deus não foi fraco ou incapaz de dar um corpo saudável à minha filha. Mas para que a sua alma possa ser persuadida e, aqueles que estão aqui, possam ter mais fé." [...] Então ele olhou para a sua filha e disse para ela, "Levante-se do seu lugar! Não deixe ninguém ajudá-la a não ser apenas Jesus, e caminhe perfeita na frente de toda essa gente! Venha para mim!" E ela levantou-se e foi até ele. A turba rejubilou-se pelo que havia acontecido. Pedro disse-lhes, "Vejam, os seus corações foram persuadidos de que Deus não é impotente em relação a qualquer coisa que peçamos para Ele." Então eles se rejubilaram ainda mais e honraram a Deus.

Pedro disse à sua filha, "Vá para o seu lugar, e sente-se, e torne-se novamente inválida- Porque isso é um benefício para você e para mim." E a menina voltou ao seu lugar, sentou-se e tornou-se como era antes. [...]
Pedro disse-lhes, "Enquanto o Senhor vive, isso é um benefício para ela e para mim. Porque no dia em que ela nasceu eu tive uma visão e o Senhor disse-me, 'Pedro, nasceu para você hoje uma grande provação. Porque essa (filha) machucará muitas almas se o seu corpo permanecer saudável.' Mas eu achei que a visão estava caçoando de mim."
O terapeuta assusta-se (Jung) com a cura enquanto que o outro (Pedro), religioso e aparentemente mais próximo do numinoso, age com naturalidade frente a um fato de cura "extraordinário" e mais ainda ao revertê-lo - neste caso, ainda que estando no campo da hipnose, os menos desavisados já vêem um milagre. Ambos são homens que crêem, mas que tem visões diferentes da sua crença. Se Pedro fosse menos religioso e mais terapeuta poderia ter curado o trauma de sua filha (diz a lenda que a filha de Pedro teria ficado inválida devido a um estupro). Acho curiosa a reação de Jung, definitivamente um terapeuta, sobretudo por ele ter definido a sua crença numa frase profunda de alguém que sabia se "escutar" e "sabia que sabia":
Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou.
Jung perdeu a excelente oportunidade de resgatar a hipnose, ou transe, como ferramenta terapêutica. O que veio a ocorrer com Milton H. Erickson, Ph. D.*, outro grande terapeuta e sábio (norte-americano) moderno. A propósito, diz Aniela Jaffé:
Mesmo uma descida ao inconsciente, empreendida conscientemente, e uma confrontação ativa com os seus conteúdos - que Jung chamava "imaginação ativa" - conduz, se não sempre, na maioria das vezes, a uma experiência do numinoso.
Ou, segundo consta em todos os grandes textos tradicionais, só existem dois grandes terapeutas de verdade:

Deus e você!

Quantos terapeutas não poderiam realizar-se melhor profissionalmente prendendo-se menos a "escolas" e mais às necessidades do seu paciente? A pergunta seria: "Com que ferramenta posso curá-lo?", e não "Tenho que curá-lo com a 'minha' terapia!" Ou, voltando a enfatizar Lucas 4, 23: "Terapeuta*, cura-te a ti mesmo."(*) Parênteses nossos.
(*) Se você tem interesse, há vários livros magníficos sobre o trabalho de Milton H. Erickson já traduzidos. Comece, por exemplo, pelo Seminários Didáticos de Psicanálise (Ed. Imago). Depois procure as traduções dos vários volumes de Milton H. Erickson Papers (Ed. Psy). Leia também As Táticas e o jogo de Poder de Jesus Cristo e outros ensaios, de Jay Haley M. D. (Ed. Nórdica). Ah, sim, na Bíblia de Jerusalém, este texto está dizendo "Medico, cura-te a ti mesmo". É uma tradução incorreta da palavra grega therapeutés, cujo significado verdadeiro é "aquele que cura" e não necessariamente "médico".

Falando de curas bíblicas, vale a pena assinalar que das 50 ou mais "curas milagrosas" atribuídas a Jesus, muitas referem-se certamente a doentes em estados alterados de consciência ou, então, com problemas mentais capazes de serem curados com psicoterapia - talvez até com uma psicoterapia breve trabalhada por um psicoterapeuta competente. Convém observar que muitos "pacientes" curados pelo terapeuta Jesus não sabiam que iriam ser ou que foram tratados. Apenas desfrutaram da "cura"... Trabalhada por um "terapeutés" competente: Jesus**! Como já vimos anteriormente, Jesus foi, com certeza, bem mais competente do que Pedro, que não percebeu que tinha em suas mãos a cura para a sua filha.

No próximo capítulo Terapia e Cabala, faço mais algumas considerações sobre esse assunto.
- Erudito. Aqui temos um campo ilimitado para o estudioso que tenha a coragem de ultrapassar as superstições e lendas com as quais nós normalmente justificamos a nossa falta de informação, ou então, a falta de coragem em encarar uma nova e dura realidade. Sou forçado a buscar novamente em Jung uma outra confissão. Aquela do seu encontro com a "sua realidade". Ele diz:
Já me referi à concidência de meu desenvolvimento interior com o envio que me fez Richard Wilhelm de um texto taoísta. Em 1929 nasceu o livro publicado em colaboração com ele: O Segredo da Flor de Ouro. As minhas reflexões e pesquisas atingiram então o ponto central de minha psicologia, isto é, a idéia do self. Só nesse momento encontrei meu caminho de volta ao mundo.
Jung, seus amigos, Richard Wilhelm, Heinrich Zimmer, e discípulos escreveram e escrevem verdadeiros tratados cabalísticos. Parece que muito poucos leitores estão dispostos a "sacar" o que está escrito ali porque desconhecem a linguagem; essa metaliguagem é a Cabala. Ela permitirá intuir um sem fim de processos em qualquer atividade humana porque através dela o erudito poderá avançar muito além do conhecimento formal e, quem sabe, levar consigo a humanidade; sem medo, e não como aconteceu com Jung quando revelou que:
A partir desse momento evitei mencionar qualquer tema "esotérico" na presença de meus colegas; entre os adultos não havia ninguém com quem pudesse conversar, sem medo de ser tomado por fanfarrão e charlatão.
(*) Terapeuta. [Do grego therapeutés]. S. 2g. 1. Aquele que exerce alguma forma de terapêutica e/ou conhece bem as indicações dela. Novo dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. 2ª Ed.., Editora Nova Fronteira. (**) Observe que o Novo Testamento foi escrito aproximadamente entre 45 e 125 d.C, e, certamente, muito ali contido trata-se de “ouvir dizer”. Como alias toda a Bíblia. Acreditam alguns eruditos que o Evangelho de João seja aquele mais próximo da realidade, ou por convívio direto de João ou, então, por narração a ele de alguém que de fato conviveu com Jesus.


Fonte: Textos do Cabalista e professor de Aikido: Leo Reisler(publicados anteriormente no boletim do Espaço Holístico)

05 junho, 2008

Terapeuta Uma Profissão Delicada



Assumir o papel de terapeuta é perigoso para o meu próprio crescimento espiritual?

É possível ajudar as pessoas e ainda deixar o meu próprio ego se dissolver ao mesmo tempo?

Eu sinto que uma luta sutil acontece dentro de mim entre uma parte que é clara e outra parte que não quer nada com claridade.

Sob sua orientação eu aprendi a não dominar as outras pessoas quando eu uso minha capacidade de ver, mas eu ainda estou dominando a mim mesmo?
O papel do terapeuta é uma ocupação muito delicada e complexa. Primeiro, o próprio terapeuta sofre dos mesmos problemas que ele está tentando ajudar nos outros.

O terapeuta é somente um técnico. Ele pode pretender e enganar a si mesmo que ele é um mestre - este é o maior perigo em ser terapeuta. Mas somente um pouco de entendimento e as coisas não serão as mesmas.

Primeiro, não pense em termos de ajudar os outros. Isto lhe dá a idéia de ser um salvador, de ser um mestre - e pela porta de trás o ego entra novamente. Você se torna importante, você é o centro do grupo, todo mundo está olhando para você.

Abandone a idéia de ajudar. Ao invés de ‘ajudar’ use a palavra ‘compartilhar’. Você compartilha o seu insight, seja o que for que você tenha. O participante não é alguém que é inferior a você. O terapeuta e o participante estão ambos no mesmo barco; o terapeuta é apenas um pouco mais informado. Esteja atento para o fato de que o seu conhecimento é emprestado. Nunca esqueça por nenhum momento que o que quer que você conheça ainda não é a sua experiência, e isto irá ajudar as pessoas que estão participando em seu grupo.

O homem é um mecanismo muito sutil. Ele funciona em ambos os lados: o terapeuta começa se tornando o mestre e ao invés de estar ajudando ele está destruindo alguma coisa no participante, porque o participante também irá aprender somente a técnica. Não haverá uma amizade amorosa e de compartilhamento, uma atmosfera de confiança, mas: "Você sabe mais, eu sei menos... participando em alguns grupos terapêuticos eu também vou saber tanto quanto você sabe."

Os participantes lenta, lentamente começam a se tornar eles mesmos terapeutas, porque nenhum diploma é requerido - pelo menos em muitos países. Em alguns países eles começaram a declarar ilegal todo tipo de terapias não aceitas; somente um homem que tem qualificação universitária em terapia, psicanálise, psicoterapia será permitido ajudar às pessoas em grupos de terapia. Isto vai acontecer em quase todos os países do mundo, porque a terapia se tornou um negócio e pessoas que não são qualificadas estão dominando-a. Eles conhecem a técnica, porque a técnica eles podem aprender; participando em alguns grupos eles conhecem todas as técnicas, então eles podem fazer uma mistura eles próprios. Mas não existe jeito de controlar...

Mas lembre-se: no momento que você assume o papel daquele que ajuda, o ajudado nunca irá perdoá-lo. Você machucou o seu orgulho, você machucou o seu ego. Esta não era a sua intenção... a sua intenção era apenas de inflar o próprio ego, mas isto só pode acontecer se você machucar o ego das outras pessoas. Você não pode inflar o seu ego sem machucar os outros. Seu ego maior precisa de mais espaço e os outros têm que encolher seus espaços e suas personalidades para existir com você.

Desde o começo seja uma pessoa amorosa autêntica... e eu faço isto um ponto absolutamente necessário porque não tem nada mais terapêutico do que o amor. A técnica pode ajudar, mas o milagre real acontece através do amor. Ame as pessoas que estão participando da terapia e seja um entre eles, com nenhuma pretensão de estar mais alto ou ser mais santo.

Torne isto claro desde o começo: "Esta é a técnica que eu aprendi e um pouco é minha experiência. Eu vou dar-lhes a técnica e compartilhar a minha experiência. Mas vocês não são meus discípulos; vocês são apenas amigos com dificuldades. Eu tenho alguma compreensão, não muita, mas eu posso compartilhá-la com vocês. Talvez muitos de vocês tenham suas próprias compreensões vindas de diferentes áreas, diferentes direções. Vocês podem também compartilhar suas experiências e tornar o grupo mais rico."

Em outras palavras, o que eu estou dizendo é um conceito totalmente novo de terapia. O terapeuta é somente um coordenador. Ele somente tenta fazer o grupo mais silencioso, sereno; ele dá uma olhada para que nada dê errado... é mais um guardião do que um mestre. E você tem que tornar isto claro também: "Eu estou também aprendendo enquanto estou tentando compartilhar a minha experiência. Quando eu estou escutando vocês, não é somente os seus problemas, eles são meus problemas também. E quando eu estou dizendo alguma coisa, eu não estou somente dizendo, eu estou escutando também."

Enfaticamente torne claro que você não é alguém especial. Isto tem que ser feito no começo do grupo e isto tem que estar presente enquanto o grupo vai mais fundo, explorando. Você permanece somente um ancião, alguém que deu uns poucos passos à frente; de outro modo você não será capaz de ajudar às pessoas. Eles aprenderão a técnica e eles se tornarão terapeutas por si próprios. E existem loucos o suficiente - cinco bilhões de loucos - na terra; eles encontrarão seus próprios seguidores É uma fraqueza humana que quando as pessoas começam a consultá-lo, você começa a pensar: "Deve haver alguma coisa importante em mim se as pessoas estão me consultando". Eles estão com problemas, eles estão sofrendo das fragilidades humanas. Mas você também é humano, e errar é absolutamente humano. Sem nenhuma condenação, com grande amor, ajude-as a se abrirem para si mesmas - e isto só é possível se você próprio se abrir.

Eu experienciei um fato esquisito: estranhos contam uns aos outros coisas que eles nunca poderiam dizer para as pessoas que eles conhecem. Em uma viagem de trem você encontra alguém; você não sabe o seu nome, você não sabe aonde ele está indo, de onde ele vem, e as pessoas começam a compartilhar. Eu viajei por vinte anos sem parar por todo o país, observando um estranho fenômeno - que as pessoas falam seus segredos para estranhos, porque o estranho não vai explorar isto. Daqui a pouco chega a próxima estação e o estranho se vai; talvez você nunca mais vai vê-lo novamente. E ele não está interessado em destruir sua reputação ou qualquer coisa. Pelo contrário, compartilhando os seus segredos, suas fraquezas, sua vulnerabilidade, toma o outro mais íntimo e mais amoroso e mais confiante em você. Sua confiança provoca a confiança dele em você e quando eles vêem você sendo tão inocente e tão aberto e disponível, eles começam a se abrir; é uma reação em cadeia...

Mas um grupo de terapia não é o final. É somente o começo. É uma preparação para a meditação, assim como a meditação é uma preparação para a iluminação. Se você entende as coisas em sua aritmética básica, você não achará isto difícil - e você irá desfrutar mais o grupo, porque o grupo será capaz de ir mais fundo com você. Você não será apenas um professor no grupo; você também será um aprendiz. O profeta de Kahlil Gibran, al-Mustafa, tem uma bonita afirmação. Quando alguém pergunta: "Conte-nos alguma coisa sobre aprender", ele diz: "Porque vocês me perguntaram eu irei falar. Mas lembrem-se - eu estou falando e eu também estou escutando com vocês..."

Ame as pessoas que se tornam participantes em seu grupo. Ame-as como elas são, não como elas deveriam ser. Elas sofreram toda a vida por causa de todos os tipos de líderes religiosos, políticos, sociais, teológicos, filosóficos que as amariam se elas os seguissem, que as amariam se elas se tornassem apenas imagens de acordo com as idéias deles. Eles vão amá-lo somente quando o tiverem morto completamente, quando o tiverem demolido e o reconstituído de acordo com as idéias deles.

Todas as religiões fizeram isto com a humanidade. Ninguém foi deixado ileso. E estas pessoas têm pensando que estão ajudando, conscientemente. Elas lhe deram ideais, ideologias, princípios, mandamentos com uma certeza fixa de que querem lhe ajudar; de outra maneira você irá se perder. Elas não podem confiar na sua liberdade e não podem respeitar sua dignidade; elas o reduziram enormemente - e ninguém nem mesmo contesta...

Eu estou lembrando da afirmação de um grande médico que é meu amigo. Eu não sei se ele ainda está vivo ou não, eu não soube nada sobre ele nestes últimos seis anos. Ele era o médico mais proeminente na cidade onde eu vivia antes de me mudar para Bombay e então para Poona. Ele disse para mim: “A experiência de toda a minha vida é que a função de um médico não é a cura do paciente. O paciente cura a si mesmo, o médico simplesmente dá uma atmosfera amorosa, promissora. O médico simplesmente dá a confiança e reanima o desejo de viver por mais tempo. Todos os seus medicamentos são de ajuda secundária.” Mas se uma pessoa perdeu o desejo de viver, toda a sua experiência de vida era de que nenhum medicamento, nada ajuda.

A situação é a mesma para o terapeuta. O terapeuta não é a pessoa que irá curar os problemas psicológicos da pessoa. Ele pode somente criar uma atmosfera amorosa na qual elas podem abrir suas imaginações inconscientes reprimidas, repressões, alucinações e desejos sem nenhum medo de que os outros irão rir delas, com absoluta certeza de que todos irão sentir compaixão e amor por elas. O grupo inteiro deveria funcionar como uma situação terapêutica.

O terapeuta é apenas um coordenador. Ele agrupa pessoas com distúrbios ou psicologicamente doentes e apenas olha para que nada saia errado. E se ele pode apoiá-las com alguma idéia, algum insight, alguma observação, ele deveria sempre tornar claro que: "Isto é apenas meu conhecimento, não é a minha experiência" - a menos que ele tenha a experiência.

Se você é sincero e honesto e verdadeiro e autêntico, você nunca irá cair na armadilha de se tornar um mestre, um salvador - na qual é muito simples cair. No momento que você se toma um mestre e um salvador - e você não é - você não está nem mesmo ajudando estas pessoas, você está simplesmente explorando estas pessoas, suas fraquezas, seus problemas.

Todo o movimento psicanalítico ao redor do mundo é o experimento mais explorador que está acontecendo. Ninguém está sendo ajudado; todo mundo está sendo explorado tremendamente. E ninguém está sendo ajudado porque o psicanalista, o psicoterapeuta...; a psicologia se bifurcou em muitos ramos, mas eles todos fazem o mesmo trabalho: eles o reduzem a um paciente e eles são os médicos.

E o problema é que eles mesmos estão sofrendo das mesmas doenças. Cada psicanalista vai a outro psicanalista aproximadamente duas vezes por ano para ser ajudado. É uma grande conspiração. Escutando todo o tipo de insanidade, a menos que você esteja além da mente e seus problemas, você mesmo irá se tornar insano. Você irá começar a sofrer dos mesmos problemas que seus pacientes estão sofrendo. Ao invés de você curá-los, eles o estão fazendo ficar doente. Mas a responsabilidade é sua.

Traga amor, abertura, sinceridade... Antes deles começarem a abrir as portas de seus corações - eles estão mantendo-as hermeticamente fechadas de forma que ninguém saiba dos seus problemas - a primeira função do psicoterapeuta é abrir o seu coração e deixar que eles saibam que ele é tão humano quanto eles. Ele está sofrendo das mesmas fraquezas, da mesma luxúria, do mesmo desejo de poder, do mesmo desejo por dinheiro. Ele sofre de angústia e ansiedade, sofre do medo da morte.

Abra o seu coração totalmente. Isto irá ajudar aos outros a confiar em você - que você não é um enganador. Os dias dos salvadores e profetas e mensageiros e tirthankaras e avatares já passaram completamente. Nenhum deles será aceito hoje. E neste momento, se algum deles reaparecer, as pessoas nem mesmo irão apedrejá-lo até a morte, as pessoas irão fazer piadas dele. As pessoas irão simplesmente lhe dizer: "Você é estúpido. A simples idéia de que você pode salvar toda a humanidade é maluca. Primeiro salve a si mesmo e nós iremos ver sua luz e nós iremos ver sua grandiosidade e nós iremos ver o seu esplendor."

E a confiança vem por si própria. Não é para ser pedida. Ela vem como uma brisa fresca das montanhas, uma maré dos oceanos. Você não tem que fazer nada para ela vir. Você somente tem que estar disponível no momento certo, no lugar certo.Ninguém pode salvá-lo exceto você mesmo. Eu digo a vocês: Seja um salvador de si mesmo. Mas a ajuda é possível, com uma condição: que ela venha com amor, que ela venha com a gratidão: "Você confiou em mim e abriu seu coração."

A função do terapeuta é certamente muito complexa - e idiotas estão fazendo isto! A situação é quase como se açougueiros estivessem fazendo cirurgias; eles sabem como cortar, mas isto não significa que eles possam se tornar cirurgiões do cérebro. Eles podem matar búfalos e vacas e todos os tipos de animais, mas sua função está a serviço da morte. O terapeuta está a serviço da vida. Ele tem que criar valores afirmativos da vida vivendo-os ele mesmo, indo para os silêncios de seu coração.

Quanto mais fundo você está dentro de você, mais fundo você pode atingir no coração do outro. É exatamente o mesmo... porque seu coração ou o coração do outro não são coisas muito diferentes. Se você entende o seu ser, você entende o ser de todo mundo. E então entende que você também tem sido louco, você também tem sido ignorante, você também falhou muitas vezes, você também cometeu crimes contra você mesmo e contra os outros e se outras pessoas ainda continuam fazendo isto não há necessidade de condenação. Eles devem ser alertados e deixados por si próprios; você não deve moldá-los em um certo padrão.

Então é uma alegria ser um terapeuta, porque você chega a conhecer a interioridade dos seres humanos - que é um dos lugares secretos mais escondidos da vida. E conhecendo os outros você conhece a si mesmo mais. É um círculo vicioso; não existe nenhuma outra palavra - caso contrário eu não usaria a palavra ‘vicioso’. Permita-me cunhar uma palavra: é um círculo virtuoso. Você se abre para seus pacientes, participantes e eles se abrem para você. Isto lhe ajuda a se abrir mais e isto ajuda-os a se abrirem mais. Logo não existe terapeuta e não existe paciente, mas simplesmente um grupo amoroso ajudando uns aos outros.

A menos que o terapeuta se perca no grupo, ele não é um terapeuta de sucesso. Este é o meu critério. Você está dizendo: "Sob a sua orientação eu aprendi a não dominar as outras pessoas quando uso minha capacidade de ver, mas eu ainda estou dominando a mim mesmo?" Elas não são duas coisas. Dominação é dominação, se você domina os outros ou domina a si mesmo. Se você está dominando a si mesmo, então de algum modo sutil você irá dominar os outros também. Como pode ser de outro jeito?

A primeira dominação que você tem que abandonar não é sobre os outros... porque não é certo que eles irão aceitar o seu domínio. A primeira dominação que você tem que abandonar é sobre você mesmo. Por que tornar a si mesmo um prisioneiro - com grande esforço criar uma prisão a sua volta - e então carregá-la aonde quer que você vá? Primeiro aprenda a total alegria da liberdade, de um pássaro voando no vasto céu. A sua própria liberdade se tomará uma força transformadora para os outros. A dominação é tão feia. Deixe isto para os políticos, que não têm nenhum senso de vergonha. Eles vivem nas sarjetas e eles pensam que estão vivendo em palácios. Toda a vida deles é uma vida nas sarjetas - eles irão viver lá e eles irão morrer lá. Eles são primeiros ministros, eles são presidentes, eles são reis, eles são rainhas...

Um dos mais significantes poetas egípcios foi questionado uma vez: "Quantos reis existem no mundo?" Naquele tempo... ele disse: "Existem somente cinco reis. Um está na Inglaterra e quatro estão nas cartas de baralho". Agora isto pode ser mudado: existem cinco rainhas, uma na Inglaterra e quatro nas cartas de baralho... Mas eles não têm mais nada. Eles estão somente tentando atingir mais e mais poder simplesmente para encher o seu interior que eles sentem que está vazio.

Olhando do lado de fora, o interior está vazio. Olhando de dentro, o mundo todo está vazio. Somente o seu interior está transbordante, mas as coisas que estão transbordando são invisíveis: a fragrância de seu ser, o amor, o deleite, o êxtase, o silêncio, a compaixão - nada pode ser visto com os olhos. É por isto que quando você olha de fora parece que tudo está vazio. E então um grande desejo surge: Como preenchê-lo? - com dinheiro, com poder, com prestígio, se tornando um presidente ou primeiro ministro? Faça alguma coisa e preencha-o! Não se pode viver com um vazio dentro, um lado de dentro oco.

Mas estas pessoas não foram para dentro; elas olharam de fora. E este é o problema: a partir de fora você pode ver apenas objetos e o amor não é um objeto, êxtase não é um objeto, iluminação não é um objeto, entendimento não é um objeto, sabedoria não é um objeto. Tudo que é grande na existência e na vida humana é subjetivo, não é objetivo. Mas de fora você só pode ver objetos. Isto cria uma tremenda urgência de preencher seu interior oco com qualquer lixo. Existem pessoas que estão preenchendo-o com conhecimento emprestado; existem pessoas que estão preenchendo-o com tortura auto-imposta - eles se tornam santos. Existem pessoas que estão mendigando para se tornarem primeiros ministros, se tornarem presidentes. Em toda a parte as pessoas ocas estão com uma necessidade tremenda de dominar os outros. Isto lhes dá a sensação de que não são ocos.

Um sannyasin começa investigando a sua subjetividade, a partir de dentro, e ele se torna consciente de tremendos tesouros, inexauríveis tesouros. Somente então você pára de dominar a si mesmo e você pára de dominar os outros. Não existe necessidade disto. A partir deste momento todo o seu esforço é tornar todo mundo consciente de sua individualidade, de sua liberdade, de suas imensas e inexauríveis fontes de êxtase, contentamento, paz.

Para mim, se a terapia prepara o terreno para a meditação, a terapia está indo certo... terreno para o paciente e terreno para o terapeuta, ambos. A terapia deveria se mover em um certo ponto para a meditação. A meditação move-se em um certo ponto para a iluminação. E ter este tremendo potencial e permanecer apenas um mendigo... eu me sinto tão triste algumas vezes quando penso nos outros. Eles não são mendigos, mas eles se comportam como se fossem mendigos e eles não estão prontos para abandonar sua mendicância - porque eles estão com medo que isto é tudo o que eles têm. E a menos que eles abandonem a sua mendicância, eles nunca saberão que eles são imperadores e seu império é do interior...

Tente entender a si mesmo tão profundamente quanto possível. A terapia vem em segundo lugar. E a menos que você tenha refinado o seu ser através da meditação e silêncio... eu não estou dizendo, pare de trabalhar; eu estou dizendo, transforme a sua qualidade. Torne-o um trabalho real. Abra o seu coração, conte a eles as suas fraquezas, conte a eles os seus problemas, peça os seus conselhos - eles podem lhe ajudar? E uma vez que os participantes entendam que o terapeuta não é um egoísta, eles virão com absoluta humildade, abrindo os seus corações. Então você pode ajudá-los.

Mas sempre e sempre se lembre: a terapia em si mesma é incompleta. Mesmo a terapia perfeita é somente o primeiro passo. Sem o segundo passo ela é sem sentido.

Assim deixe os pacientes no ponto em que eles começam a se mover em direção à meditação. Sua terapia está completa somente quando seus pacientes começarem a perguntar sobre meditação. Crie um grande desejo em seus corações pela meditação, e diga-lhes que a meditação é também somente um passo - o segundo passo. Em si mesma também não é suficiente, a menos que ela o guie para a iluminação; esta é a culminação de todo o esforço. E eu confio em você, que você é capaz disto.

Um judeu de Odessa estava sentado no mesmo compartimento que um oficial do czar russo que tinha um porco consigo. Para aborrecer o judeu, o oficial começou a chamar o porco de Moishe. Moishe! Fique quieto! Moishe! Venha aqui! Moishe! Vá lá!

Isto continuou por todo o caminho para Kiev. Eventualmente o judeu se aborreceu e disse: "Você sabe, capitão, é uma grande vergonha seu porco ter um nome judeu."

"Mas por quê?" sorriu maliciosamente o oficial. "Bem, de outro modo ele poderia ter se tornado um oficial no exército do czar."
Existe um limite para tudo! Faça disto uma marca que o limite da terapia é onde a meditação começa e o limite da meditação é onde a iluminação começa. Naturalmente, a iluminação não é um passo para nada: você simplesmente desaparece na consciência universal, você apenas se torna uma gota de orvalho escorregando da folha de lótus para o oceano. Mas ela é uma grande experiência. Isto torna a vida finalmente significativa, significante. Ela lhe permite se tornar parte do universo do qual o seu ego o separou. Você apenas tem que se mover na direção correta. Uma sensação de direção correta e tudo pode se tornar um trampolim em direção aos estados mais altos da consciência. Eu utilizei tudo, mas a direção é a mesma. Eu usei muitos tipos de meditação. Na periferia eles parecem diferentes. Existem cento e doze métodos de meditação: eles parecem muito diferentes uns dos outros e você pode pensar: "Como pode todos estes diferentes métodos levar à meditação?"

Mas eles levam... assim como um fio unindo uma grinalda de flores não é visto, você vê somente as flores, estas cento e doze flores têm um fio unificador: este fio é o testemunhar, olhar, observar, estar atento.

Assim ajude aos pacientes tanto quanto você possa para entender os seus problemas, mas deixe claro que mesmo que esses problemas sejam resolvidos, você é a mesma pessoa. Amanha você irá começar a criar os mesmos problemas novamente - talvez de diferentes maneiras, com uma cor diferente. Assim a sua terapia não deveria se tornar nada mais que uma abertura para a meditação. Então a sua terapia tem um tremendo valor. Caso contrário é somente um jogo mental.




Fonte: Livro – Osho, O livro da cura

Tradução: Sw Dhyan Yukti

Editora: Shanti