28 abril, 2008

Deus e Deusas do Tantra (por Otávio Leal)







“Eu sou o amor puro dos amantes que lei nenhuma pode proibir.”

Krishna



A mitologia hindu e tântrica é uma das mais ricas e de todo o planeta.

São tantos deuses/deusas, devas (seres equivalentes aos anjos da tradição ocidental), semideuses e avatares (manifestação da lei divina ou do caminho da iluminação, onde ava = manifestação; tara = lei) que se torna impossível enumerá-los. Selecionei nesse capítulo algumas das principais divindades.

Dentre elas, os três deuses/deusas que constituem a trindade máxima (trimurti) do hinduísmo e do tantra ― Brahma, Vishnu e Shiva.

É importante afirmar que, embora alguns textos apresentem hierarquia entre as divindades do trimurti, não há supremacia.

Os três são independentes e complementares.



Brahma, o Criador


Primeira divindade do trimurti. É o deus criador, senhor de todos os seres, descrito com quatro ou cinco cabeças. Veste-se com roupas brancas e cavalga sobre um ganso. Uma das lendas sobre o surgimento de suas múltiplas cabeças conta que, de sua própria “substância imaculada”, Brahma deu origem a uma companheira. Ao contemplar a beleza sublime de sua companheira, Brahma foi tomado por um grande amor que não conseguia deixar de olhá-la. Para que continuasse a mirá-la, mesmo quando ela se deslocava para outros lados (direito, esquerdo, trás e alto), Brahma deixou que novas cabeças surgissem. Por fim, Brahma tomou-a por companheira e juntos deram origem a suras (deuses) e asuras (demônios).


O mantra de Brahma, ou Brahma Mantra, proporciona contentamento, saúde e longevidade. Concede também um sentimento profundo de devoção e confiança. Deve ser entoado, no mínimo, oito vezes:

Om Hrim Brahmaya Namah.



Sarasvati, a Deusa da Sabedoria


É a forma feminina de Brahma, sendo sua companheira e filha por ter surgido diretamente da matéria do Criador e tê-lo desposado. Seus outros nomes são Satapura, Savitri, Gayatri e Brahmani. Representa todo o conhecimento e a sabedoria. Mãe dos Vedas (livro sagrado hindu) e inventora do alfabeto dêvanágarí (escrita dos deuses), é representada como uma bela jovem de quatro braços. Aparece sentada numa flor-de-lótus, símbolo da transmutação, trazendo em uma das mãos uma flor para oferecer a Brahma e na outra um livro, símbolo de sua sabedoria. Em outra mão segura um shivamala (colar de Shiva), que lhe serve para contar os mantras que entoa, e na outra, um pequeno tambor, chamado damaru, que lembra seu amor à arte e à música.

Também é representada como uma jovem com apenas dois braços que toca um instrumento de cordas, sentada sobre uma flor de-lótus.


O mantra de Sarasvati, ou Sarasvati Mantra, visa o aperfeiçoamento do intelecto, da criatividade e da inteligência. Deve ser entoado, no mínimo oito vezes:

Om Sri Sarasvatiaya Namah.



Vishnu, o Mantenedor


Segunda divindade do trimurti, Vishnu é a energia conservadora. Aparece em oito encarnações ou avatares. Leva um disco na mão, mostrando que mantém o dharma, a retidão, a justiça, a honradez e a ordem do universo. A concha simboliza a remoção da ignorância e a música do cosmo. O lótus representa a beleza do universo e a pureza, assim como a transformação. O veículo de Vishnu é Garuda, o homem-águia, uma figura de grande força e poder.


O mantra de Vishnu, ou Vishnu Gayatri Mantra, tem como efeito principal estimular a força física do praticante. Deve ser entoado oito vezes ao dia:


Om Narayanaya Vidmahe Vasudevaya Dhi Mahi
Tanno Vishnu Prachodayata.

As oito manifestações de Vishnu e seus mantras

Segundo a tradição hindu, Vishnu se manifestou em oito formas divinas. Algumas poucas escolas acreditam que Siddharta Gautama — o Buda — seja a nona encarnação. Eu, particularmente, não.


1a manifestação: Matsya


Matsya significa peixe e nessa encarnação Vishnu é um peixe enorme com escamas de ouro e um chifre. Ele avisou Manu (o “Noé” hindu) sobre o dilúvio e salvou-o num barco preso ao seu chifre.

2a manifestação: Kurma


Vishnu, aqui, se transforma em Kurma, a tartaruga, a fim de salvar o Monte Mandara — que continha o leite da imortalidade — do ataque de demônios destruidores.

3a manifestação: Varaha


Quando a Terra estava submersa sob as águas de um segundo dilúvio, Vishnu encarnou em um javali, matando um gigante que aprisionava a Terra.

4a manifestação: Nara Simha


Vishnu aqui é Nara Simha, meio homem, meio leão. No crepúsculo matou um demônio que tinha invulnerabilidade durante o dia e a noite. Essa manifestação deveu-se à necessidade de combater a idolatria do homem.

5a manifestação: Trivik Rama


Desejando terminar a guerra entre deuses/deusas e demônios, Vishnu encarna num anão com poderes mágicos que domina os três mundos (físico, emocional e espiritual). O mantra que invoca Vishnu e o domínio dos três planos é: Om Trailokya Nathaya Namah.

6a manifestação: Parasu Rama


Nessa encarnação Vishnu aparece como um sacerdote hindu. Ele matou o rei Kshatryia, que roubou seu pai. Os filhos do rei, por sua vez, mataram seu pai, o que fez com que Parasu Rama matasse todos os homens descendentes do rei durante 21 gerações.

7a manifestação: Rama


Rama é um guerreiro que sai em resgate de sua esposa Sita, capturada pelo demônio Râvana. Na batalha descrita na Epopéia Ramayama, Rama tem um fiel amigo, o macaco Hanumam, deus da devoção.

8a manifestação: Krishna


Krishna é considerado a manifestação mais consciente de Vishnu. É o iluminado que traz caminhos de paz, equilíbrio e amor na era em que vivemos (kali-yuga).
Este é o mantra de Krishna, popularizado no Ocidente, a partir do fim dos anos 60, pelos Beatles:
Hare Rama, Hare Rama
Rama Rama, Hare Hare
Hare Krishna, Hare Krishna
Krishna Krishna, Hare Hare.


Krishna, O Amor Puro


Reencarnação de Vishnu, Krishna é um dos mais conhecidos avatares. Seu nome significa “escuro”, graças à sua pele de tom azulado. É representado por um jovem formoso, de corpo forte e cabelos anelados. É a divindade que conta com o maior número de adeptos na Índia e em todo o mundo, ao lado de Jesus e Buda.

No Mahabharata — a grande odisséia hindu e o mais famoso poema épico de toda a Índia —, Krishna aparece ao lado de seu primo e escudeiro Arjuna.

Num dos livros do Mahabharata, o Bhagavad Gita (A Canção do Senhor), Krishna personifica a divindade suprema, enquanto Arjuna representa o ser humano, que encontra em Krishna um guia e conselheiro.

É a divindade do amor e também recebe os nomes de Govinda (Pastor), Kezava (O Que Possui Cabelos Abundantes), Gopinath (Senhor dos Leiteiros) e Gopal (Pastor).

O mantra de Krishna, ou Krishna Mantra, permite ao discípulo desenvolver uma grande força física e moral. A entoação constante deste mantra proporciona confiança e faz com que o praticante passe a acreditar em sua própria capacidade de realização.

Para ele o impossível torna-se possível, a dor se transforma em alegria, e as dificuldades, em satisfação.

Deve ser repetido oito vezes ao dia:

Om Klim Krishnaya Namah

Alguns mantras relacionados a Krishna
Mantras de Krishna (para felicidade):

Om Hrisi Keshâya Namah.
Este mantra pode ser entoado, também, para despertar todos os nossos potenciais.

Govinda é o chefe dos pastores e este mantra é uma alusão ao mestre Krishna, o pastor dos espíritos, entoado por aqueles que buscam orientação mística interior:

Om Govindaya Namah.

O mantra que homenageia Krishna, o matador de demônios, deve ser entoado para proteger-nos de inimigos:

Om Madhusudanaya Namah.

Este é o mantra de proteção que invoca Vasudeva, o pai de Krishna:
Om Namo Bhagawate Vasudevaya.
A repetição deste mantra sagrado aumenta sensivelmente nosso poder de cura energética :
OM Sri Krishnaya Govindaya Vallabrâva Swáhá.

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